Artigo: Estamos próximos a uma calamidade pública. Não a oficial, mas a de fato, sentida por cada um de nós!

Há quase duas décadas, li  “Gripe: a história da pandemia de 1918”, livro escrito por Gina Kolata, uma jornalista norte-americana especializada na área da saúde. A obra retrata toda a história do vírus influenza ao longo da humanidade até o fim dos anos 90. Ao tentar relatar a pandemia de 1918, conhecida como gripe espanhola, […]


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Ana Cristina 30/03/2021 08:00 Artigos

Há quase duas décadas, li  “Gripe: a história da pandemia de 1918”, livro escrito por Gina Kolata, uma jornalista norte-americana especializada na área da saúde. A obra retrata toda a história do vírus influenza ao longo da humanidade até o fim dos anos 90. Ao tentar relatar a pandemia de 1918, conhecida como gripe espanhola, ela conta que foi difícil encontrar documentos e registros numa quantidade compatível com a importância desse triste capítulo da história. Considerando que isso foi no início do século passado, quando a imprensa já existia, seria natural esperar que um acontecimento dessa magnitude deixasse um volume considerável de informação para as gerações futuras. O que não aconteceu. No livro, a autora sugere que seria como se o trauma coletivo deixado pela catástrofe da época, com corpos empilhados nas ruas, tivesse sido de tamanha natureza que fez com que as pessoas simplesmente não quisessem registrar o ocorrido.

Juntamente com colegas da área de saúde, estou na linha de frente de combate a COVID-19 desde o princípio da epidemia. Mal houve uma momentânea redução da primeira onda, assistimos espantados como as pessoas se “soltaram” no final do ano passado como se o virus não mais existisse. Sabíamos do advento do que estamos vendo agora. Um momento angustiante, quando ultrapassamos 300 mil mortes em todo o país. Mesmo com o estresse do sistema de saúde público e privado ainda temos pessoas dobrando a aposta todo dia. Vivem em uma realidade paralela onde não existe pandemia. Insensíveis às notícias que parecem falar de um mundo distante. Como se a doença não lhes dissesse respeito. O que falta para que o cidadão entenda que estamos na iminência de cair no precipicio dos corpos empilhados nas ruas como em 1918? Que nossos pais, avós, filhos e demais entes amados correm risco todos os dias? E quem está aumentando esse risco são exatamente esses mesmos cidadãos? Teremos que apagar os registros históricos novamente? Passar uma borracha no tempo presente para não termos que lembrar que provocamos o sofrimento e a morte daqueles a quem dizíamos amar? O que falta para que entendam que estamos à beira de uma calamidade? Não a declarada pelo Estado. Estou falando de uma calamidade sentida por cada um de nós.

É possível que as vacinas percam sua eficácia pelo surgimento de variantes genéticas resistentes a elas. Ainda assim tantas pessoas insistem em erros sucessivos. Aglomeram, espalham notícias falsas, insistem em terapêuticas que não funcionam, seguem lideranças duvidosas, que nenhum compromisso têm com a ciência e com a vida. Erros atrás de erros, rifando nosso futuro, ameaçando a geração que virá em seguida, colocando em cheque o futuro da nossa nação! Até quando nossa gente vai dar com os ombros e fingir que esse presente não é nosso, acumulando equívocos que destruirão o futuro de nossas crianças?

A mensagem que o vírus traz é clara: não é possível pensar em si, sem pensar no outro. Isso não é uma afirmação dogmática religiosa! Trata-se de uma evidência de ordem científica. Nunca ficou tão claro que não é possivel viver em comunidade sem considerar quem está ao seu lado. E que cuidar do outro é cuidar de sí. Não é possivel eu me aglomerar sem colocar em risco a mim e aos meus.

Chegamos a mais de 300 mil mortes de pais, avós, tios, irmãos e muitas mães chorarão as mortes de seus filhos. Aliás, no dia das mães, provavelmente elas serão confrontadas com algo em torno de 400 mil mortes. Muitas lágrimas. Muito sofrimento. Lembro-me do caso de um paciente meu que foi a óbito. Telefonamos para sua família para comunicar o infortúnio. A esposa estava com COVID assim como sua filha. Ambas não poderiam buscar o corpo do seu marido/pai. Nem poderiam participar de seu funeral. Não pude conter o nó na garganta imaginando a dor daquelas duas pessoas.

Gostaria, mas não conseguirei apagar os registros de sofrimentos que vi nesse um ano de COVID. Nós, profissionais de saúde, prosseguiremos no nosso trabalho a despeito disso. Vamos seguir em frente na esperança que nada acontece por acaso. De que isso tudo tem um propósito que um dia fará sentido. Torcendo para que nossa gente entenda a gravidade do momento e passe a seguir evidências científicas e acreditar nas medidas higiênicas e de isolamento. Que todos se dediquem a preservação da vida e do futuro dos seus!

*Adriano Oliveira é  infectologista e clínico geral, titular da Sociedade Brasileira de Infectologia

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