Nascido no reggae, criado no samba: cantor fortalece cultura negra em Feira de Santana
Sobrinho de Edson Gomes, Ney Jamayka era fã de reggae, mas é com o samba que conquistou a cidade
Falar sobre samba em Feira de Santana é praticamente a mesma coisa que mencionar o grupo Audácia Pura, que tem 22 anos de estrada e muita história na cidade e na região. Vocalista do grupo, Ney Jamayka, 42 anos, é quem mantém a banda ativa e com a agenda cheia neste retorno dos eventos durante a pandemia de Covid-19.
“Só tenho espaço agora em janeiro, graças a Deus. Para dezembro não tenho mais datas. Juntaram os shows nos barzinhos e casas de shows e as confraternizações”, explicou o cantor e compositor.
A demanda do grupo está tão alta que falta tempo até para lançar música nova. “Tem uma que vamos lançar, é até mais romântica, ‘Labirinto’. Vamos gravar um clipe. A gente ainda não fez o lançamento por causa do número de shows. Falta tempo pra lançar a música”, detalhou.
“São 22 anos de reconhecimento aqui na cidade. O que nos deixa feliz é ver uma pessoa se emocionar no show, te abraçar no final, isso que é combustível, não tem dinheiro que pague”, garantiu.
Mas, quando se fala de racismo, nem quem é famoso escapa. E Jamayka conta um episódio que o deixou muito triste.”Numa feijoada, a gente tava cantando e um bêbado chegou próximo do palco. Ele fez um gesto como se eu estivesse fumando maconha porque meus olhos estavam vermelhos. Ele ficou insinuando, fez o gesto. Aquilo me chateou tanto”, lembrou.
“Nunca sou de perder a calma, mas chamei aquele cara e disse umas boas palavras. Depois, outro músico parou o show, aí eu falei para todos. Ele recebeu uma vaia sonora e teve que deixar o evento”, complementou o cantor.
Em relação ao Novembro Negro, mês da Consciência Negra, o músico acredita que “há muito o que se fazer. Sofro muito aqui, mesmo sendo conhecido. Houve avanços, mas falta muito. Muitas madames quando me viam de moto levantavam o vidro do carro. Agora, quando estou no meu carro, fazem a mesma coisa. Os negros recebem os menores salários, enfim. Sou um pai de família, cidadão do bem, pago meus impostos”, reclamou.
Mais de duas décadas de estrada na música
Ney Jamayka e a banda Audácia Pura têm uma longa história, mas a carreira do músico começara aos 16 anos, quando ele foi convidado para cantar em um trio elétrico, durante um comício político. Depois, ele criou a sua primeira banda: Elite do Samba. Mas Jamayka havia sido chamado para liderar a Xodó de Mãe e, a partir de encontros com o grupo Revolusamba, deixou a Xodó para fazer parte da Audácia.
“Hoje, o Audácia tem 22 anos em Feira e representa a cidade por toda a região. Já tocamos fora do estado, em Aracaju (SE), no Maranhão, fazendo essa mistura do samba do rio com o nosso saba daqui. É uma banda que se tornou referência em todos os eventos de samba da cidade por ser também uma das bandas de samba mais antigas de Feira”, falou o cantor.
“Sempre falo com minha mãe que a música me dá tudo que eu preciso, principalmente em reconhecimento e valorização. Chegar em um shopping e receber o carinho das pessoas não tem dinheiro que pague. Sempre tive a música como hobby, pois sempre trabalhei, mas hoje me dá uma condição, é um acrescenta na renda. Infelizmente ainda não dá pra viver da música, mas é o meu desejo porque não tem nada melhor na vida do que fazer o que gosto”, contou Ney Jamayka.
Filho de Odete Conceição Gomes, 81 anos, Ney tem um irmão gêmeo, Edy Gomes. Os dois são os últimos filhos dos 21 que o pai teve. “Meu pai teve quatro esposas. Em 2010, fizemos uma conta e eram 62 sobrinhos”, lembrou o cantor.
“Minha mãe estava grávida quando meu pai faleceu. Nasci em janeiro, quatro meses depois da morte do meu pai. Ela grávida de gêmeos. Foi luta. Mas a gente nunca passou fome. Nunca faltou alimento, estudo. Minha mãe, graças a Deus, é realizada”, festejou o compositor.
Nascido no reggae, criado no samba
Natural de Cachoeira, Ney Gomes dos Santos virou Ney Jamayka já em Feira de Santana, em decorrência de sua carreira artística. Antes, o sobrinho de Edson Gomes era fã de reggae. “Minha família tem influências musicais. Sou sobrinho de Edson Gomes. Gostava de reggae, principalmente mais jovem, mas meu negócio é o samba. No Recôncavo Baiano, o samba de roda é muito forte”, explicou o compositor.
Atualmente funcionário de uma empresa que presta serviços ao Detran de Feira de Santana (3ª Ciretran), Ney Jamayka tem dois filhos e é fã de futebol. Torcedor do Bahia e do Flamengo, ele fala sobre as gerações de seguidores que a banda Audácia Pura cultivou ao longo dos anos: “A Audacia pegou uma galera de 35, 40 anos pra cá, galera que acompanha mais, mas a maioria já casou, tem filhos. Muitos já não seguem mais. Agora são os sobrinhos, filhos, que já começam a nos seguir, chamando de tio e tudo. E hoje são eles que estão nos meus shows”.
Sobre um momento marcante na trajetória, o cantor lembra: “Foi num show de Belo aqui em Feira que atrasou. A gente já tinha se despedido da galera, do palco, mas a produção mandou a gente voltar. Ficamos com medo de voltar e ser vaiados, mas foi totalmente diferente. Até hoje eu fico arrepiado só de falar. O povo fez um coro pedindo a gente. Aquilo foi uma coisa que marcou, galera pedindo o Audácia. Um reconhecimento não só de Feira, mas de toda região”.
Feliz com todas as conquistas como músico, Jamayka até hoje se dedica como se fosse o jovem de 16 anos em cima do trio elétrico pela primeira vez. “O reconhecimento vem de um trabalho feito com muito amor, com muito carinho. A gente vai ensaiar e coloca tudo ali. A gente deixa a família em casa nos aguardando, se desloca até o estúdio, ali é mais uma família. É ali que trocamos ideia para trazer o de melhor para o nosso público. Não tem cachê que pague isso”, detalhou.
O antigo perfil da banda foi hackeado. Então, se quiser saber onde a Audácia Pura vai se apresentar, acompanhe no Instagram @audaciapurafsaa.
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