Como se fosse o poeta – Carta ao Toquinho, 2021

Fala meu parceiro, meu amigo, meu irmão. Aqui é o Vininha, o velho “poeta, poetinha, camarada.” Escrevo para saber das novidades desse mundo daí. Do lado de cá, resta o silêncio e a contemplação com a eternidade do tempo. Outro dia, mexendo nos velhos papeis, encontrei um fragmento de uma composição escrita por mim, intitulada, […]


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redacao 09/07/2021 08:00 Artigos

Fala meu parceiro, meu amigo, meu irmão. Aqui é o Vininha, o velho “poeta, poetinha, camarada.” Escrevo para saber das novidades desse mundo daí. Do lado de cá, resta o silêncio e a contemplação com a eternidade do tempo. Outro dia, mexendo nos velhos papeis, encontrei um fragmento de uma composição escrita por mim, intitulada, “Testamento”.

Ao passar os olhos na letra, veio-me, à mente, uma série de lembranças bastante alvissareiras. Eis o trecho escolhido para representar um momento em que havia uma fala intercalada: “Mas você, que esperança… Bolsa, títulos, capital de giro, public relations (e tome gravata!), protocolos, comendas, caviar, champanhe (e tome gravata!), o amor sem paixão, o corpo sem alma, o pensamento sem espírito (e tome gravata!), e lá um belo dia, o enfarte; ou pior ainda, o psiquiatra.” 

Diante desse universo de reminiscências, resolvi mexer no velho baú da alma, revisitando algumas letras, poemas, crônicas e não me contive: pedi autorização às entidades supremas e mandei outra carta individualizada para Tom, Baden e Narinha. Aí sim, comecei a entender alguns sentidos que até então não pareciam muito claros. Da mesma forma que estou escrevendo essa carta para você, busquei na memória uma passagem construída por nós. “É, meu amigo, só resta uma certeza, é preciso acabar com essa tristeza, é preciso inventar de novo o amor.”

A vida por aqui é meio monótona. O cotidiano passa numa lentidão estranha e há muito tempo para pensar sobre todos os mistérios da existência. Pode parecer mórbido o que vou lhe dizer, mas dentro dessa lógica, até a construção poética pode ser desconstruída. Ultimamente tenho usado a velha máquina de datilografia para modificar algumas ideias que eu acreditava serem as melhores.
Tenho me esforçado para acompanhar todas as mudanças ocorridas no cosmo.

Nem sempre dá para entender como as coisas funcionam, porém, mesmo com todo esse atraso, faço questão de buscar a compreensão desse tal mundo novo. A melancolia surge quando lembro do “Rio antigo”, do “Cantinho do sol”, da “Garota de Ipanema”, do violão e também do melhor amigo do homem. Para os que não sabem, “o melhor amigo do homem é o cachorro engarrafado.” Se alguém tiver dificuldade em compreender o que isso quer dizer, esclareça a dúvida com um amante da bossa nova.

Uma coisa que você não sabe é que por aqui, os porres homéricos e as paixões desenfreadas não seguem os ritos tradicionais. A efemeridade transcendental faz com que tudo seja para sempre e nesse particular, não há espaço para os temores, os ciúmes e os dissabores. Tudo segue em essência, e as prisões estão sempre dissociadas das chaves e dos cadeados. A grande vantagem é que todas as ressacas são curadas sem sofrimentos ou desencantos.

Voltando aos velhos temas tão banais e aos amores possíveis e impossíveis, resgato na memória uma passagem do “Soneto do amor total”: “amo-te, enfim, com grande liberdade, dentro da eternidade e a cada instante…” O amor sendo interpretado a partir do coração do amante incontrolável, desprovido do juízos de valor absolutos. Isso sim é que é viver, sem ter tempo para chorar, ou para antecipar as possíveis desilusões.

Tom, o maestro de todos os tons, costumava dizer que dizer que “tristeza não tem fim, felicidade sim…” Agora, mais do que nunca, posso comprovar que ele estava certo, até porque, as pétalas de rosa continuam sendo carregadas pelo vento. Pode parecer simplório ou quem sabe até piegas, mas tenho que lhe confessar que todo o arcabouço de ideias que construí até aqui, estão sempre permeadas pelo lirismo do que realmente acredito.

É, meu bom amigo, conforme falei no “Samba da benção”, “fazer samba não é contar piada, e quem faz samba assim não é de nada, o bom samba é uma forma de oração…” Hoje, mais do que nunca, reconheço o balanço das ondas e o tilintar das taças e entendo as transitoriedades como oportunidades indeléveis da natureza.

Reconheço também, que “meu tempo é quando” e mais ainda, que todos os mistérios da vida poderiam ser revelados a partir daquela nota que precisava ser revista, daquele apelo poético que precisava ser modificado, daquela infinitude que precisava ser considerada e daquela última palavra que poderia ter sido dita, por uma única oportunidade que poderia ser experimentada.

O velho uísque está chegando ao fim, e essa carta recheada de saudosismos quer mostrar o quão decisivo é o ato de viver até o limite. Aproveite bastante essa temporada e não fique preocupado com o que está por vir. Não antecipe absolutamente nada, afinal de contas, haverá sempre, em algum lugar, alguém com disposição de falar da vida em “lá maior”. O resto é consequência.

*Rosival Carvalho é professor
professorrosivalcarvalho@gmail.com
@prof.rosivalcarvalho

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