ARTIGO: Vertigem de ficção*

Quando analisado o significado da palavra Documentário, vemos que se trata de uma produção artística, normalmente um filme, em que seus produtores e diretores, assumem o compromisso de mostrar a realidade dos fatos, mesmo que sob um direcionamento narrativo. Pode não representar a realidade ipsis litteris, pois aborda os fatos dentro de uma certa subjetividade, […]


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Ana Cristina 22/01/2020 10:00 Artigos

Quando analisado o significado da palavra Documentário, vemos que se trata de uma produção artística, normalmente um filme, em que seus produtores e diretores, assumem o compromisso de mostrar a realidade dos fatos, mesmo que sob um direcionamento narrativo. Pode não representar a realidade ipsis litteris, pois aborda os fatos dentro de uma certa subjetividade, o que lhe dá um caráter parcial do que se exibem, mas não os distorce, pois trata-se de documentos.

Mas independentemente de como é narrado, o documentário não pode mudar a realidade dos fatos e, mesmo com uma visão parcial do mundo em foco, não tem como fugir do objetivo de sustentar-se por acontecimentos reais. Mesmo que não espelhe na íntegra a realidade a ser abordada, trata efetivamente sobre aquilo que ocorreu, antes ou durante as filmagens e não daquilo que poderia ou se quer que tenha acontecido.

Depois de tanto entusiasmo dos movimentos sociais de esquerda, com o documentário “Democracia em Vertigem”, dirigido e produzido por Petra Costa, nada mais correto que buscar uma análise isenta, com base em documento (daí a razão de o nome ser documentário e não apenas um filme). Mas o que ficou foi uma sensação de total vertigem. Não do filme em si, mas do confronto entre o que é exibido na tela, com a realidade que foi vivida por milhões de brasileiros em 2016, com os momentos antes e depois do impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff.

Sem adentrar no mérito da técnica cinematográfica, dentro das normas que regem o cinema, as duas horas de exibição soaram mais como um apelo ideológico para que a realidade, vista e vivida por milhões de brasileiros, assumisse um desfecho diferente do que foi. É como vermos apenas um lado da moeda, aquele que queremos que seja mostrado, ignorando ou mostrando en passant, a outra face, para que ela não retrate de forma mais fiel essa mesma moeda.

Alguns equívocos são tão notórios que só mesmo quem não estava no Brasil, e não acompanhou passo a passo os movimentos antes, durante e depois do apeamento do poder do Partido dos Trabalhadores, pode dizer que o filme-documentário espelha uma realidade dos brasileiros em 2016. E nesse direcionamento de visão, a cineasta deixa claro o seu posicionamento ideológico, em detrimento da verdade dos fatos.

E comete equívocos políticos-jurídicos que só reforçam seu viés ideológico, ao afirmar que a ex-presidente Dilma Rousseff foi deposta por um golpe. Na verdade, o processo do impeachment foi democrático, pois seguiu todo o rito jurídico, tanto no Supremo Tribunal Federal (STF), como no Congresso. Da mesma forma que a prisão do ex-presidente Lula seguiu os mesmos ritos jurídicos, com amplo direito de defesa. 

Numa catarse ideológica, cria-se o mito em torno do ex-presidente Lula, dando a entender que ele é um injustiçado político, quando, na verdade, ele foi condenado em dois processos (mesmo estando sub judice por decisão recente do Supremo Tribunal Federal) e ainda é réu em mais três processos. E contra ele pesam dezenas de acusações, extraídas de depoimentos e delações premiadas, inclusive de seus antigos colaboradores, como o seu ex-ministro e homem de confiança, AntonioPallocci.

Na apologia que faz ao ex-presidente Lula, em que a figura da ex-presidente Dilma Rousseff parece ser apenas um apêndice para dar suporte à narrativa, o documentário não dá a dimensão do escândalo do Mensalão e do seu congênere muito mais robusto, o Petrolão. São tratados como meras acusações em que o PT e o seu líder supremo, Lula, são vítimas de tramas. Figuras como Roberto Jefferson, o ex-presidente do STF, ministro Joaquim Barbosa e os bilhões desviados pela corrupção não são abordados. 

Há, contudo, quem aposte que o Brasil finalmente terá assento no seleto mundo de Hollywood, com o documentário Democracia em Vertigem. Nada é impossível. Mas observando bem a narrativa, a descrição poderia ser acrescida do adjetivo de Documentário de Ficção.

* Adilson Fonseca é Jornalista e escreve neste espaço sempre às quartas-feiras (adilson.0804@gmail.com) 

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