Daniela Mercury regrava manifesto de Chico Buarque e reúne estrelas pela liberdade e democracia

Sempre engajada em sua militância por um mundo melhor, Daniela Mercury lança uma versão para “Apesar de Você”, canção de Chico Buarque, censurada pela ditadura militar, em 1970, na era conhecida como  “anos de chumbo”, protagonizada à época pelo governo do então presidente Emílio Garrastazu Médici (1905-1985).

A capa do single leva a assinatura da incensada Adriana Varejão. A artista plástica contemporânea brasileira é famosa por suas obras – expostas em coleções de instituições como Metropolitan Museum of Art, em Nova York, o Guggenheim Museum (NY), o Tate Modern, em Londres, entre outros.

Para o lançamento da canção, que ganha a voz de Daniela 50 anos depois da gravação original, a inquieta cantora reuniu um time de grandes artistas em um vídeo manifesto lançado nesta quinta-feira (10), data em que é comemorada o Dia Internacional dos Direitos Humanos. 

Com a música de Chico como base, o clipe com pouco mais de cinco minutos de duração, mostra imagens de notícias de ataque aos direitos humanos.

Na ação, além de Daniela Mercury, participam outros artistas e formadores de opinião como Elza Soares, Gilberto Gil, Caetano Veloso, Adriana Calcanhotto, Geraldo Azevedo, Deborah Colker, Zélia Duncan, Dona Onete, Céu, Vik Muniz, Margareth Menezes, Vânia Abreu, Teresa Cristina, Gabriela Priori, Ailton Krenak, Vovô do Ilê, Antonio Nobrega, Silva, Elisa Lucinda, Assucena, Raquel Virginia e Rafa (As Baías), Jessé de Souza, Sergio Besserman, Casagrande, Preta Ferreira e Anielle Franco.

“Apesar de você, estamos aqui para falar de liberdade”, escreveu a cantora no Instagram, agradecendo a participação dos amigos artistas.

As imagens das matérias e as falas dos artistas dão o tom do manifesto e acendem o sinal de alerta da sociedade para todas as violações que vêm acontecendo nos últimos anos, fazendo um recorte da atual realidade brasileira.

A produção é do documentarista Belisario Franca, de Maurício Magalhães e de Malu Verçosa Mercury, montagem de Yan Motta, direção de arte de Renato Nunes e motion de Jonas Bispo.

O áudio da gravação de Daniela Mercury  da canção Apesar de você estará disponível à meia-noite em todas as plataformas de streaming. 

Observatório de Direitos Humanos do CNJ

Ainda nesta quinta, Daniela Mercury participa da reunião do Observatório de Direitos Humanos do Conselho Nacional de Justiça, presidido pelo ministro Luiz Fux, que também é presidente do Supremo Tribunal Federal (STF).

Durante a reunião, Daniela lerá o manifesto na íntegra e falará da ação dos artistas e dos influenciadores que participaram do vídeo, clamando pela defesa desse princípio básico dos direitos humanos: a liberdade.

Confira a íntegra do manifesto:

Manifesto contra a violação de direitos humanos, pela liberdade de expressão e pela democracia

Há cinquenta anos, Apesar de Você, de Chico Buarque de Holanda, foi um manifesto musical eloquente contra o autoritarismo e contra a censura que inibiam as liberdades humanas e os direitos fundamentais na ditadura. Hoje, no Dia Internacional dos Direitos Humanos, estamos lançando um manifesto audiovisual contra a violação de direitos humanos, pela liberdade de expressão e pela democracia.

Nosso propósito é o de pedir à sociedade civil que identifique as forças antidemocráticas e reflita sobre os riscos que a perda de liberdades gera para a democracia.

Ao reunir matérias de imprensa sobre violações graves aos direitos humanos, sobre os ataques à democracia, sobre o enfraquecimento das instituições, sobre a destruição da natureza, sobre a redução dos espaços de participação social e do acesso à informação pública, dentre outras gravíssimas violações constitucionais, buscamos mostrar a crescente escalada do autoritarismo, dos discursos de ódio e das perdas de liberdades no Brasil.

É imprescindível e urgente combater com veemência a censura às liberdades artística e cultural; à liberdade de cátedra; à liberdade de imprensa e à ciência; bem como o uso de fake news e os ataques aos artistas, aos jornalistas, às mulheres, aos povos indígenas, aos povos tradicionais, aos quilombolas, à comunidade LGBTQIA+, aos ciganos, aos moradores de comunidades e de periferias e à população negra, enfim, a todas as minorias.

Também é urgente e imprescindível fazer cessar a destruição da Amazônia, do Pantanal, do Cerrado, da Caatinga e da Mata Atlântica, porque é um direito humano o acesso à água limpa, ao ar puro, ao saneamento básico e a um ambiente equilibrado.
Este manifesto é uma forma de resistência democrática e de fortalecimento da sociedade civil.

Os direitos humanos estão feridos. É preciso deixar claro que não há democracia sem direitos humanos. Precisamos garantir todas as liberdades, a começar pela liberdade de expressão.

Amanhã vai ser outro dia!