“O candomblé não existe sem a natureza”, frisou a yalorixá Mãe Cacau 

Uma audiência pública, realizada pela Comissão de Desenvolvimento Sustentável da Câmara Municipal de Vereadores de Salvador (CMS), presidida pelo vereador Marcos Mendes (PSOL), na tarde da última quarta-feira (9), debateu o tema “Sustentabilidade e os Projetos de Requalificação no Abaeté e Orla de Itapuã: a comunidade quer ser ouvida!”.

A sessão solene foi transmitida pelos canais oficiais da Câmara de Vereadores e contou com as presenças de lideranças comunitárias, ambientalistas, professores universitários, vereadores, especialistas e representantes de órgãos públicos.

O vereador, que também é ambientalista, geólogo e mestre em Geologia Ambiental, pontuou que Salvador tem uma das maiores zonas costeira do Brasil, cerca de 130 km, com forte cultura e natureza especiais. Entretanto, a capital baiana e o Estado da Bahia ainda não possuem planos de gerenciamento costeiro e a cidade continua passando por vários projetos de requalificação que estão promovendo diversos danos ambientais e culturais.

“Nós protocolamos representação junto ao Ministério Público Federal (MPF) porque a prefeitura está invadindo áreas das praias com obras de concreto. Temos importantes unidades de conservação ambiental como o Abaeté que é um patrimônio histórico e cultural da humanidade e que precisa ser preservado e valorizado pelos poderes públicos”, salientou Mendes.

A yalorixá Cláudia Santos do terreiro Mansu Dandalunda Oyá Kissimbi N’ zambi, conhecida como “Mãe Cacau”, salientou a importância que a natureza possui para o Povo de Santo e à ancestralidade negra.

Para a líder religiosa, a obra da Estação Elevatória de Esgoto (EEE) representa o racismo ambiental e a falta de respeito dos órgãos públicos com as comunidades de terreiros de candomblé e com os espaços sagrados.

“Nós cultuamos nossa ancestralidade. O povo de santo é ambientalista porque sem a natureza não existe candomblé. Foram apresentadas alternativas técnicas, mas devido ao racismo e arrogância dos nossos gestores, não utilizaram outras possibilidades técnicas. Nelson Pelegrino nunca participou dos debates sobre a Estação Elevatória de Esgoto e ainda tem coragem de dizer nos meios de comunicação que a obra resultou de uma participação e de debate com a comunidade de Itapuã. Eu não sei como Pelegrino tem coragem de chegar à imprensa e de mentir dessa forma”, protestou.

A advogada e vereadora eleita pelo mandato coletivo do PSOL “Pretas Por Salvador”, Laina Crisóstomo, salientou que o partido possui autonomia política para fazer os enfrentamentos e travar as lutas sociais.

“Minha história tem uma relação muito grande com o Abaeté. Sou uma mulher de candomblé. Sou das águas. Vamos continuar fazendo o enfrentamento. O caso do Abaeté é uma situação concreta de racismo religioso e ambiental. Vamos continuar com a luta”, pontuou Laina Crisóstomo.

A vereadora eleita pelo Partido dos Trabalhadores (PT), Maria Marighella, também marcou presença na audiência pública.