Tamar prepara festa de 40 anos em fevereiro de 2021 em total sintonia com a comunidade
Programas socioambientais voltados às populações locais fortalecem a instituição ao multiplicar o engajamento na preservação ambiental
Um grande trunfo explica o sucesso da Fundação Projeto Tamar: a parceria constante – e sempre moldada em ações concretas – com a comunidade das localidades onde atua. Ao completar 40 anos em 2020, a ‘jovem senhora’ não para de sonhar, agora com a maturidade que só a experiência oferece. “Ainda tem muita coisa a ser feita. Acho que temos que continuar formando pessoas, inspirando as pessoas”, defende a oceanógrafa Neca Marcovaldi, fundadora do Tamar.
Em meio a pandemia de Covid-19, que também deixou marcas indesejáveis na instituição (leia aqui), Neca olha para o futuro com esperança. E planeja uma comemoração à altura das quatro décadas de sucesso, já com data marcada: 5 de fevereiro de 2021.
“Se tudo correr bem, pensamos em fazer uma celebração das tartarugas marinhas e dos nossos planos de recuperação das espécies, [mostrando] nossos resultados já atualizados e analisados cientificamente. Gostaríamos de criar um dia especial, trazendo boas notícias em relação à recuperação das populações das tartarugas marinhas, consequência do nosso trabalho de proteção nas praias”, projeta.
Os detalhes da festa ainda não estão definidos, mas a grande parceira do Tamar – a comunidade – é presença garantida. Foi assim em dezembro de 2019, na abertura das comemorações do aniversário, quando moradores, funcionários e crianças atendidas pelos projetos sociais da Fundação participaram de uma festiva soltura de filhotes de tartarugas no mar de Praia do Forte. Com eles, o Tamar atingiu a marca de 40 milhões de filhotes preservados na costa brasileira.
A preocupação em multiplicar o engajamento na conservação ambiental em geral, e das tartarugas marinhas em particular, está estampada já na missão definida na criação da Fundação: “Promover a recuperação das tartarugas marinhas, desenvolvendo ações de pesquisa, conservação e inclusão social”.
Essa parceria começou nas origens. Aquele grupo de estudantes de Oceanografia, ao presenciar cenas de depredação de pontos de desova de tartarugas em Atol das Rocas (RN), sonhou em protegê-las. E logo entendeu que nenhum trabalho vingaria sem o apoio e a cumplicidade dos pescadores. A partir daí, o que era apenas uma ideia ganhou corpo e contornos de realidade.
Para mapear onde, quando e quais espécies de tartarugas marinhas desovavam no litoral brasileiro, o trabalho foi árduo, feito a pé, a cavalo ou jegue. Dois anos depois do início das atividades, em 1980, quando os fundadores chegaram em Praia do Forte, entra em cena um personagem fundamental para a história de sucesso que seria escrita em seguida: Klaus Peters, paulista de ascendência alemã, que praticamente fundou a localidade como a conhecemos hoje.
O empresário, morto em 2011, comprou 30 mil hectares de coqueiros, rios e praias – e, a partir disso, construiu um império lucrativo. Foi criador e presidente da Fundação Garcia D’Ávila, responsável pela preservação da reserva de Sapiranga e pelo ordenamento da vila de pescadores. Com suas ações e seu espírito visionário, Klaus Peters colocou Praia do Forte no mapa do mundo.
Sempre com o instinto certeiro para boas ideias, Peters foi um apoiador de primeira hora dos jovens obcecados em proteger as tartarugas. No processo de mapeamento ao longo do litoral brasileiro, eles descobriram que o norte da Bahia era uma das áreas preferenciais de desova. E desembarcaram em Praia do Forte “com uma mala de sonhos”, como define Neca Marcovaldi.
Ela descreve o início: “Uma vontade de fazer algo para cessar a matança de fêmeas de tartarugas e a coleta dos ovos, com praticamente nada de estrutura. Nem carro nós tínhamos para fazer essa missão quase impossível. E Klaus nos acolheu, acreditou em nós. Ele nos dava apoio logístico, que na época eram coisas básicas, até o empréstimo de cavalos para sair monitorando a Praia do Forte. Ele realmente tinha uma cabeça que alcançava um futuro que nem nós tínhamos ideia do que seria”.
De alimento à alvo de proteção
As cinco espécies que ocorrem no litoral brasileiro são a tartaruga-cabeçuda, a tartaruga-verde, a tartaruga-oliva, a tartaruga-de-couro e a tartaruga-de-pente. Antes do Tamar, fazia parte da tradição abater as fêmeas que chegavam à praia para desovar. Os animais e seus ovos serviam de alimento para diversas comunidades litorâneas. As capturas incidentais na pesca de outras espécies também levavam a uma redução drástica das populações de tartarugas, o que ainda ocorre.
A conscientização, a mobilização e, por fim, a parceria com os pescadores e com as comunidades costeiras foram fatores essenciais para transformar o Tamar em uma referência mundial em conservação marinha. A pedagoga Mariucha Ferreira, presidente da Associação São Francisco de Assis de Moradores e Pescadores da Praia do Forte e coordenadora do Tamarzinho – projeto de educação ambiental para crianças – credita o sucesso do Tamar ao “olhar carinhoso e atencioso” que os fundadores direcionaram à comunidade.
“Desde o momento em que eles chegaram, veio esse convite às pessoas que antes comiam tartarugas para ajudar a protegê-las”, conta. Aos poucos, a convocação foi aceita pelos pescadores mais antigos, com voz na comunidade, que começaram a convencer os demais. E fez-se o milagre da multiplicação. O Tamar investe em programas específicos para as colônias – “Nem tudo que cai na rede é peixe” e “Nossa praia é vida” – e mantém encontros contínuos com os pescadores.
Para Mariucha, todos saem ganhando nessa parceria entre pesquisadores e comunidade com um objetivo comum. “Antes se acreditava que tudo que dava no mar nunca teria fim. Comiam as tartarugas não porque fossem terríveis, comiam porque era um hábito passado de geração em geração. Quando a pessoa é educada, conscientizada e sensibilizada, tudo muda. A relação do pescador com o mar mudou. O pescador e o Tamar são indissociáveis. Hoje todos vestem a camisa porque a tartaruga tem um valor muito maior viva do que morta”, afirma.
Neca Marcovaldi reforça o conceito ao lembrar que estamos na Década dos Oceanos, instituída pela Organização das Nações Unidas (ONU). A expectativa é que nos próximos dez anos a humanidade se informe mais sobre as águas que cobrem mais de 70% do planeta, absorvem um terço do gás carbônico, retêm o aquecimento global e garantem a subsistência de bilhões de pessoas.
“Todas as pessoas têm uma relação só de lazer em relação às áreas marinhas, mas o mar é o nosso pulmão. Todo mundo se reporta à Amazônia e esquece que a maior parte do planeta é constituída e abastecida pelo mar, tanto na parte de alimentação quanto de produção de oxigênio”, pontua a oceanógrafa.
Multiplicadores da conservação
A pandemia de Covid-19 interrompeu todos os programas socioambientais desenvolvidos pelo Tamar junto às comunidades litorâneas, e ainda não há prazo para a retomada. Mas eles estão bem vivos e fazem parte do DNA da Fundação. Desde o início, a proposta era não apenas estudar e proteger tartarugas marinhas, mas também formar multiplicadores de uma ideia.
Nas palavras de Neca Marcovaldi: “Eu acredito que cada vez mais nós teremos condições não só de proteger os animais nas praias e tentar diminuir a captura incidental nas pescarias, como também de multiplicar a ideia da conservação marinha através da sensibilização e educação ambiental, que é um dos nossos pontos fortes”.
O prefeito de Mata de São João, Marcelo Oliveira (PSDB), concorda. Embora reconheça a importância do Tamar para a geração de emprego e renda, ele ressalta que a contribuição da Fundação vai muito além do seu Centro de Visitantes. “Há uma preocupação permanente em desenvolver na população uma consciência ambiental que evite a degradação da exuberante natureza do nosso litoral”, destaca. Oliveira acrescenta que, em respeito à importância do projeto nas ações de engajamento da população local, há muitos anos a prefeitura ajuda o Tamar com a isenção total dos tributos municipais.
A Associação São Francisco de Assis de Moradores e Pescadores da Praia do Forte conta com 300 associados, mas busca atender a toda a comunidade, que tem cerca de 3 mil pessoas. É com essa visão gregária que Mariucha Ferreira coordena as ações do Tamarzinho. Da mesma forma que a proteção das tartarugas gerou a soltura de 40 milhões de filhotes, o projeto que cuida de crianças tem muitos frutos.
“São 25 anos, completados no último dia 26 de setembro, e já temos pedagogos, biólogos, enfermeiros, engenheiros, pessoas da área jurídica, da hotelaria. São diversas as profissões de ex-participantes do programa que puderam vivenciar essa experiência de autogestão, de projetar sua vida futura. De 1995 até março deste ano, passaram por lá cerca de 920 crianças”, orgulha-se Mariucha. Neta de pescador e exemplo da transformação, ela integrou a primeira turma do Tamarzinho.
O projeto faz uma conexão poderosa entre passado e futuro. As crianças conhecem a Praia do Forte de antigamente na visão dos moradores mais antigos, os contadores de história, e analisam os mapas turísticos da região, que mostram o quanto a localidade se desenvolveu. Também fazem uma projeção para daqui a 20 anos no chamado mapa do futuro, onde expressam suas expectativas e seus desejos para Praia do Forte.
“O programa visa fortalecer o autoconhecimento, a autogestão daquela criança, para que ele também venha a ser um dos multiplicadores não só nas questões ambientais, mas nas sociais também. Para isso, ela precisa se conhecer e se sentir pertencente ao local”, explica Mariucha.
O Tamarzinhio é apenas um dos programas sociais desenvolvidos pela Fundação (leia abaixo). A instituição também apoia a Creche Escola Finn Larsen, que atende a cerca de 500 crianças e promove educação formal de qualidade em Praia do Forte e adjacências, integrando as atividades pedagógicas à conservação ambiental.
Há 40 anos, Neca Marcovaldi teve um sonho que virou uma ideia, frutificou e fez história. “Comecei essa trajetória e isso faz parte da minha vida, se mistura com a minha vida. Eu me sinto absolutamente realizada”, resume. Mas ela não cai na armadilha das fórmulas prontas de sucesso. “Não acredito muito em modelo. Acho que cada pessoa, cada coisa, cada missão tem suas características próprias”, afirma. Ela só dá uma dica a quem tiver uma ideia promissora e se permitir sonhar: “Dedicação, persistência, resiliência. Mais dedicação, persistência e resiliência. Sem isso, e o amor investido em uma causa, acho que as coisas não funcionam”.
Sobre o futuro da Fundação Projeto Tamar, Neca aposta que as atividades serão ainda mais fortalecidas pós-pandemia. “Acredito que possamos retomar nosso trabalho, que é lindíssimo. Um trabalho que precisa multiplicar, precisa que as pessoas, através da experiência de verem os animais e entenderem um pouco a história e o porquê da conservação, possam retornar aos seus lugares de origem e tentar, inspirados nisso, fazer alguma diferença”.
Confira os programas sociais do Tamar
CORAL DO MAR
Formado por crianças das comunidades da Praia do Forte e entorno, o Coral do Mar é regido pelo professor Luciano Calazans e pela professora Kika. Como parte do projeto de inclusão social e educação ambiental da Fundação Projeto Tamar, a formação musical das crianças das comunidades vem sendo desenvolvida desde o início de 2010, com o objetivo de fomentar a cultura e sensibilizar as pessoas através da música.
ESCOLINHA DO TAMAR
A Escolinha do Tamar é um programa de educação ambiental não formal desenvolvido desde 2005 pela Fundação Projeto Tamar na comunidade de Arembepe, município de Camaçari. Atende anualmente 60 crianças na faixa etária entre 6 a 14 anos, em horário oposto ao da escola. Estar matriculado na rede de ensino é condição para participar do programa.
GRUPO DE PIAÇAVA
O objetivo é propiciar uma oportunidade de renda para a comunidade de Curralinho, utilizando a piaçava. O programa promove a inserção da mulher e do adolescente em atividades produtivas, estimulando a prática do associativismo.
TAMAREAR
Em 2019, foi criado o programa Tamarear, inspirado no sucesso dos Tamarzinhos, mas com a inclusão de atividades esportivas como ferramenta de educação e sensibilização ambiental. A base de Fernando de Noronha foi a escolhida para receber a primeira turma do programa, composta por seis crianças, do quinto ano da Escola de Referência em Ensino Médio.
NOSSO PAPEL DE FUTURO
Programa de inclusão social e educação ambiental que utiliza a tartaruga marinha como espécie bandeira para proporcionar melhor qualidade de vida aos jovens das comunidades de Ubatuba (SP) e para ações de proteção dos oceanos. Atende 20 jovens, entre 14 e 18 anos, em situação de vulnerabilidade social no município de Ubatuba e de moradores do entorno da base da Fundação Projeto Tamar.
BRIGADA ECOLÓGICA
Criado em 2001 no litoral cearense, o Brigada Ecológica Adolescente é um programa anual que atende adolescentes na faixa etária entre 14 a 17 anos, devidamente matriculados em instituições de ensino formal pública, levando-se em consideração aqueles residentes nas áreas de atuação da Fundação Projeto Tamar, pertencentes a famílias com vínculos no território.
CAPOEIRA UNIDOS NAS TARTARUGAS
Há quase 30 anos, foi criado o grupo de capoeira Unidos nas Tartarugas. Esse programa de educação ambiental realizado pela Fundação Projeto Tamar em Ponta dos Mangues (SE) atende filhos de pescadores da região e desperta o sentimento de pertencimento ao local, estimulando a formação de uma consciência ecológica e transformando-os em multiplicadores em suas comunidades e grupos sociais.
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