Dia dos Avós: eles pedem mais atenção e encaram a saudade

Relatos de comunidades indígenas, quilombolas e de grandes cidades


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redacao 26/07/2020 14:30 Cidades

Na proa da canoa, o menino Francisco Uruma olhava para o pai e para o avô, que, em concentração, buscavam o pirarucu nas águas do rio, no Alto Solimões. Era mais do que uma pesca. Da mesma forma, o caminho pela mata para buscar açaí era mais gostoso até que a pequena fruta. O que importavam mesmo eram as histórias ao longo dos caminhos. Uruma de 40 anos de idade, é cacique da Aldeia Tururucari-Uka, do povo da etnia Omágua-Kambeba. Eles vivem em terra na área rural de Manacapuru (AM) desde 2004. O cacique já tem três netos (que vivem em outra aldeia, a sete horas de barco) e espera ser para eles o que os ancestrais representaram na sua vida. Domingo, o pai, de 82 anos, ainda trabalha e gosta de contar histórias. Até pelos exemplos que teve, o cacique orienta que toda a comunidade mantenha contato permanente com os mais velhos para que as tradições e os saberes não se percam. Neste domingo (26), porém, Dia dos Avós, vai ser mais um dia em que os mais velhos serão ouvidos, mas com distância.

Para Uruma, que também tem curso de coaching, é preciso que os mais jovens, também em situações como essa, tenham atenção e respeito cada vez que os mais velhos falam. Estar com os netos é mostrar união, dedicação, passar conhecimentos vividos e mostrar que ser avô indígena também faz parte da sabedoria milenar”, diz o jovem avô cacique, que é pedagogo e agente de saúde. Em tempos de pandemia, ele organizou o povo para não receber visitantes. Nem mesmo a família. A saudade dos netos é uma parte dolorosa dessa história. A aldeia que recebia grupos de turistas teve que se fechar para se proteger. Assim, nem mesmo os familiares que vivem em outras regiões podem entrar. “A gente se fala por telefone e mensagens”.

Ouvir os idosos

A geógrafa Márcia Kambeba, que é mestre e pesquisadora sobre a identidade de sua etnia, ratifica que os avós na aldeia ocupam espaço destacado. “Quando criança, nós somos orientados a ouvir as narrativas dos nossos avós. Os avós são fundamentais na construção do ser-pessoa. É normal na aldeia a gente se reunir ao redor da cadeira de um idoso. Enquanto ele fala, todos têm que ouvir em silêncio. Nós somos treinados a ouvir”, afirma.

Ela lembra que a família a estimulava a visitar casas dos mais velhos para ouvir, a cada dia, uma história diferente. “É preciso prestar atenção em cada detalhe falado. Assim, fui aprendendo sobre o rio, sobre a mata e a espiritualidade. Isso contribui para crescermos num ambiente saudável. Os idosos são o eixo de transmissão dos saberes de um povo”. Como pilar de vida, Márcia destaca que a avó, Assunta, falecida em 2001, foi referência fundamental de vida para ela.

Para Márcia, a avó Assunta foi o pilar da vida

Para Márcia, a avó Assunta, que faleceu em 2001, é a referência de vida – Arquivo pessoal
“Deitada em uma rede com fibra de tucum, ela contava sobre as dificuldades que eu iria enfrentar”. E apontou os caminhos. A avó falava de natureza à literatura. Hoje, Márcia, que também é escritora, leva poesia a asilos em grandes cidades. “O lugar do idoso não é no quarto do fundo da casa. Eles são nossos troncos velhos e não podem ser silenciados nem ficar à margem de uma família. Há jovens que não querem mais ouvir narrativas. Isso entristece os mais velhos”.

Transmissão da cultura e saberes
O agricultor Simplício Arcanjo Rodrigues, de 59 anos, um dos fundadores da Coordenação Nacional de Articulação de Comunidades Negras Rurais Quilombolas (Conaq), vive na comunidade de Rio das Rãs, em Bom Jesus da Lapa (BA), onde vivem pelo menos 800 famílias e mais de duas mil pessoas. Ele é avô de quatro netos. Todos estão longe: três, a 150 km de distância, em outra comunidade na Bahia, e uma caçula em São Paulo. A pandemia adiou os encontros que costumavam ser frequentes nas férias.

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