Ireuda Silva lista desafios enfrentados ao longo da carreira: “Lutei sozinha por muito tempo”

No cenário político de Salvador, a vereadora Ireuda Silva (Republicanos) se destaca não apenas pelo compromisso com a gestão pública, mas também pela luta incansável pelos direitos das mulheres e das minorias. Em entrevista ao Portal M!, a parlamentar, que entrou na política a partir de um convite da sigla há cerca de oito anos, listou os diversos desafios enfrentados, sobretudo por conta de uma sociedade machista e racista, e apontou a existência de um contexto favorável à violência e à discriminação, inclusive dificultando a participação na vida pública.

“Creio ter enfrentado quase todos os desafios que a maioria das mulheres negras enfrenta em uma sociedade como a nossa, tão machista e racista. O machismo e o racismo são estruturais. Eles não apenas constroem um contexto favorável à violência e à discriminação, mas dificultam nosso acesso à educação, oportunidades de trabalho e participação política, apenas para citar alguns exemplos”, afirmou. 

Ireuda também ressaltou que nem mesmo seu mandato de vereadora a blinda contra o racismo e o machismo. “Lutei sozinha por muito tempo, e só não desisti porque tive muita fé, resiliência e perseverança. E é preciso que se diga que ter um mandato de vereadora não me blinda contra o racismo e o machismo. Tudo isso ainda é uma constante na minha vida e na vida de todas as mulheres negras”, pontua.

A vereadora também falou sobre a dificuldade que as mulheres enfrentam para alcançar espaços de poder. Ela lembrou que segue enfrentando situações desse tipo e ressaltou que sempre busca maneiras de se “destacar”.

“Enfrentei e continuo a enfrentar. No entanto, sempre procurei maneiras de me destacar. Não para me colocar acima de ninguém, mas para mostrar que eu era capaz, pois o machismo e o racismo nos invisibilizam. Quem pertence a esses grupos está sempre se desdobrando para provar o próprio valor, o que é algo muito cruel”, disse. 

Em função deste cenário, a vereadora ressaltou ser a favor das políticas públicas que reservam vagas para pessoas negras e até para mulheres em contextos de violência.

Como exemplo, ela citou que em Salvador, a prefeitura implantou o programa Nova Fase, que destina 10% das vagas de estágio no poder público para as filhas de mulheres vítimas de violência doméstica. “Esse projeto é fruto de uma lei criada pelo nosso mandato, e é uma forma de promover alguma reparação e minimizar os estragos que a violência causa ao futuro de toda a família”, enfatizou.

No entanto, para além das políticas públicas, Ireuda defendeu maiores investimentos em uma educação antimachista e antirracista. “Para que as novas gerações cresçam com outra mentalidade. As políticas públicas serão apenas paliativas se as pessoas não arrancarem o racismo de dentro delas próprias”, afirmou.

Família e carreira

Outro ponto importante é a forma com que as mulheres conciliam carreira e família. Para Ireuda, harmonizar estes dois universos é um “desafio muito grande”.

“Hoje em dia, para mim é um pouco mais fácil conciliar, pois meus filhos já são adultos. Embora ainda tenhamos um longo caminho a percorrer, a mulher nunca foi tão independente e empoderada. Ainda assim, mesmo quando trabalha fora e tem uma carreira consolidada, recai sobre ela quase todo o peso quanto às tarefas domésticas e cuidado com os filhos. Não à toa é enorme o número de mães sobrecarregadas, enfrentando ansiedade e depressão”, aponta.

Sobre o fato de esses questionamentos serem feitos apenas às mulheres, Ireuda afirmou se tratar de mais um “sintoma do machismo estrutural”. “Os homens crescem sendo ensinados que tarefas domésticas não são coisa de homem. Que eles não precisam ou não não devem ajudar a cuidar dos filhos. Precisamos mudar de perspectiva urgentemente”, afirmou.

Trajetória de sucesso

Eleita para o seu primeiro mandato em 2016, Ireuda nasceu em Feira de Santana e está na segunda  legislatura como vereadora, após ter sido reeleita com 12.098 votos e ter se tornado a mulher mais votada da Bahia.

Graduada em Gestão Pública, a parlamentar iniciou sua carreira no mundo empresarial, foi coordenadora da Iurd TV durante 18 anos e criou o projeto Mulheres Notáveis, que se dedica a promover a autoestima e a autoafirmação da mulher.

“Hoje sou madrinha da iniciativa. Trabalhei em diversos setores até chegar à TV Iurd, onde passei 18 anos, exercendo, inclusive, o cargo de coordenadora. Paralelamente a isso, sempre estive envolvida em causas com foco no social, nos direitos da mulher e no combate ao racismo. Por conta disso, surgiu há oito anos o convite do Republicanos para me candidatar a vereadora, e fui vitoriosa graças à confiança que até então o povo tem depositado em mim”, destacou. 

Avanços para as mulheres 

Na Câmara Municipal de Salvador, a vereadora é presidente da Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher e vice-presidente da Comissão de Reparação. De acordo com ela, entre os avanços almejados para as mulheres em 2024 está o objetivo de intensificar o combate à violência.

“As comissões foram instaladas na semana passada e agora iniciaremos de fato as discussões sobre os projetos para este ano. Durante o Carnaval, porém, levamos às ruas a campanha ‘Meu Corpo Não é Sua Fantasia’, lançada em 2019 para combater a importunação sexual e a violência contra a mulher na folia. Vemos a necessidade de intensificar, não apenas pela comissão, mas por todas as instituições, o combate a todas as formas de violência”, explica.

Segundo Ireuda, a atuação essa atuação passa tanto pela “repressão”, quanto pela “reparação e prevenção”. “As mulheres mais pobres, por exemplo, que acabam sendo mais vulneráveis nesse sentido, necessitam de mais iniciativas de capacitação profissional, oportunidades de trabalho e estudo para que tenham mais condições de garantir a própria independência. O Simm Mulher, que é uma conquista do nosso mandato, tem dado enorme contribuição nesse aspecto. Mas é apenas mais um passo de uma longa caminhada”, enfatizou. 

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