Brasil de “todes”: Uso de linguagem neutra por novo governo gera polêmica

Novo governo utilizou expressões neutras para que pessoas não binárias se sentissem representadas nos atos oficiais 


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Bruno Brito 06/01/2023 19:43 Política

O uso da linguagem neutra nos primeiros atos do terceiro mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tem gerado uma grande repercussão. Nesta semana, algumas cerimônias de posse dos novos ministros do novo governo contaram com o uso do termo “todes”, da linguagem não binária, também denominada linguagem neutra.

Polêmico, o tema dividiu as redes sociais. De um lado, há quem defenda a novidade em nome da diversidade de gênero e há quem condene o uso dos termos, por um suposto “ataque à língua portuguesa”.

Diante deste cenário, o Portal M! ouviu o doutorando na área de sociolinguística pelo Programa de Pós-Graduação em Estudo de Linguagens (PPGEL) da Universidade do Estado da Bahia (Uneb), Carlos César Borges Nunes de Souza, sobre o tema. Ele defendeu o uso da linguagem neutra, mas ressaltou que sua adesão não ocorrerá “da noite para o dia”.

“De forma particular, eu acho interessante o uso do ‘todes’ socialmente, para não ser uma fala binária. Só que não acho que isso vai ocorrer da noite para o dia, que as pessoas vão adotar assim, por dois motivos: mudança linguística não ocorre rápido e ainda tem o embate social, que é o que temos visto nas redes sociais”.

O linguista também rechaçou as afirmações de que o uso do “todes” estaria “matando o português”. “Na internet nós vemos comentários que dizem que ‘está matando o português’, não é assim. A língua precisa mudar em função da necessidade dos usuários, só que essa mudança não ocorre da noite pro dia. Ao falar ‘todos e todas’, nós temos dois morfemas de marcação de gênero, que infelizmente é binário, que é o ‘o’ e o ‘a’, que marca o gênero”, explicou.

Carlos César, no entanto, ressaltou que mudanças como essa, não acontecem de forma discreta. “É uma ilusão achar que isso vai acontecer da noite para o dia, mas entendo que não devemos ficar sem tentar, fazer com que as pessoas entendam que esse uso carrega uma luta, a necessidade de repensar as relações sociais, para contemplar grupos não binários”, apontou.

Políticas públicas

“Acho que não devemos colocar todas as fichas no uso do ‘todes’ como uma política inclusiva, que vai fazer com que essas pessoas, especialmente os bolsonaristas, mudem o comportamento em relação às pessoas não binárias. Para mim, são necessários muitos elementos de políticas públicas inclusivas.”, disse.  

Para Carlos César, é necessário que hajam políticas de saúde, educação e inclusive, de propaganda, “no sentido de falar a respeito da questão LGBTQIA+, incluir no quadro político, em posições importantes, pessoas LGBTQIA+. Acho que deve ser uma política maior, sistêmica, e o uso do ‘todes’ seria um dos elementos que contribuiria para que o país repensasse sua postura”.

Inclusão

Em entrevista ao Portal M!, a presidente da Associação Nacional de Travestis e Transexuais (Antra), Keila Simpson ressaltou a necessidade da inclusão da linguagem neutra, sobretudo, em função da demanda existente a partir das pessoas não binárias.

“É preciso incluir, porque é demanda. E quando a demanda chega, é porque há alguém reclamando, e se há alguém reclamando é porque alguém precisa dessa visibilidade. Nós não atuamos para pessoas não binárias diretamente, a nossa instituição trabalha com travestis e mulheres transsexuais, mas de forma indireta, temos ações desenvolvidas, e esse é um debate que está posto. Nossa posição é de apoiar a linguagem neutra, para que as pessoas não binárias sejam incluídas”, destacou.

Na avaliação de Keila, o tema é tratado como “polêmico”, porque existe uma tendência a “binarizar o mundo que vivemos”. “Tendem não, o mundo que vivemos é assim, binarizado. E qualquer coisa que foge dessa regra não é uma tarefa simples”.

A presidente da Antra também chamou a atenção para o fato de que a não utilização da linguagem neutra, pode acabar afetando a saúde mental das pessoas não binárias.

“Não é modismo, é uma definição e uma identidade que as pessoas querem e precisam seguir, para se afirmar como sujeitos de direitos. Impedir esses diálogos e expressões vai acabar afetando a saúde mental dessas pessoas, contudo, é preciso compreender também, que até a linguagem ser inserida no convívio do dia a dia, ainda leva um longo período. A gente pode perceber que, por anos, essa equidade de gênero, que a gente tanto reivindica, ainda é muito atacada”, apontou.

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