A Química das emoções em Dirty Dancing:  “Now, I´ve had the time of my life…”

Naquela época não havia canais de streaming, a internet engatinhava feito um bebê, a tecnologia estava sendo impulsionada tão quanto a manipulação de partículas em escala nanométrica era comprovada por intermédio dos estudos/experimentos da técnica de tunelamento pela empresa IBM. Tudo era visto pelos canais de tevê aberta e locações de fitas VHS. Era 25 […]


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Glaucia Farias 07/12/2022 08:00 Artigos

Naquela época não havia canais de streaming, a internet engatinhava feito um bebê, a tecnologia estava sendo impulsionada tão quanto a manipulação de partículas em escala nanométrica era comprovada por intermédio dos estudos/experimentos da técnica de tunelamento pela empresa IBM. Tudo era visto pelos canais de tevê aberta e locações de fitas VHS. Era 25 de setembro de 1987 quando teve estreia do lendário “Dirty Dancing” (Ritmo Quente, em tradução livre), o filme explorou muito o lado sensual das danças tanto como apresentou temas importantíssimos, a saber: desigualdades entre classes sociais, discriminação, aborto, extorsão, subordinações trabalhistas, jogo de poder, quebra de valores existentes numa sociedade hipócrita.

Aqui, eu gostaria de destacar que, antes mesmo de ser aclamado pelo público e ter-se tornado um sucesso mundial, “Dirty Dancing” foi rejeitado por mais de 40 estúdios. Por quê? Pois era considerado muito feminino, pautado na ilusão de sonhos e romances inocentes. À primeira vista, parece um filme musical, mas quando observado com outro olhar, percebe-se aqueles valores supracitados. Apesar de, o filme ter sido lançado na década de ouro, a sua trama acontece nos anos 60 – uma época marcada por transformações políticas e sociais, grandes revoluções culturais e comportamentais (adendo: a revolução sexual e o uso da pílula anticoncepcional, o surgimento dos Beatles etc.), popularização de roupas mais provocativas (leia-se, justas e decotadas). Mesmo assim, o filme chama a atenção por tentar moldar a mulher com certos padrões impostos pela chata sociedade hipócrita.

Esse longa-metragem transitou por diversos assuntos pertinentes [e que ainda são bem discutidos], mantendo um nível de entretenimento puro e emotivo. Aliás, eu posso provar que também versou sobre Ciência, precisamente a Química, assim como o conceito de matéria – de tudo aquilo que tem massa, volume, ocupa lugar no espaço e possui propriedade específica. Qual o segredo? Por quê?

Antes, é importante mensurar que, a produção foi feita com um orçamento bem reduzido, porém, o sucesso estrondoso a levou para o pico de bilheteria da década de 80, como sendo o filme de maior sucesso no mundo, tornando-se um clássico na história do cinema. Ganhou um Oscar e um Globo de Ouro na categoria de Canção Original com “I’ve had the Time of My Life” (quem lembra? Atentem-se para essa música!).

O cinema estabelece um jogo de identificações e projeções entre os(as) personagens e os(as) espectadores(as), através do “apelo” das imagens cinematográficas nossas emoções são evidenciadas e aquelas cenas ficam marcadas para sempre em nossas vidas. Em 2009, com a morte Patrick Swayze, aos 57 anos, trouxe à baila a coreografia da música “I’ve had the Time of My Life”, que tem substituído a tradicional valsa dos noivos em casamentos ao redor do mundo. Ressalvo que não somente valsas, mas festas temáticas e, também, vem ganhando uma nova geração de fãs de todas as idades. A título de exemplo, as minhas sobrinhas Maria Ísis e Maria Helena, por ordem de chegada. Mas, por quê?

Todas as nossas emoções são construídas a partir das experiências. As emoções existem para ajudar e para garantir a nossa sobrevivência. O sentimento é a forma como interpretamos as emoções e movimentos. Quaisquer eventos emocionais causam alterações, manifestações fisiológicas e respostas no sistema endócrino. Essas respostas resultam na liberação de substâncias químicas classificadas como hormônios e neurotransmissores: dopamina, noradrenalina, adrenalina, feniletilamina, oxitocina etc. A Química [das emoções] tenta explicar que o aumento da concentração daquelas substâncias no nosso organismo acontece quando estamos desenvolvendo – digamos assim, um sentimento nobre. Até porque tudo que acontece em nosso corpo, desde a nossa formação fetal ao processo de decomposição, é por intermédio de inúmeras reações químicas (simples ou dupla troca, de equilíbrio, de cinética etc.).

Dirty Dancing revela um casal que se descobre [apaixonado] através da música e da solidariedade.  Acredito que vocês devem lembrar a dança final do filme (cantem comigo: “‘Cause I’ve had the time of my life…”), onde a Baby (Jennifer Grey) vem correndo e o Johnny (Patrick Swayze) a eleva em teus braços. Baita clássico, hein?! Tal cena representa muita coisa: confiança, cumplicidade e entrega. Para que a música nos emocione, o primeiro passo é que ela chegue aos tímpanos, que inicia uma cadeia de “entendimento” da música pelo cérebro. Após receber a canção, regiões periféricas do cérebro começam a extrair características dela, decompondo-a em elementos como timbre, intensidade e altura. Essas informações seguem para outras partes do cérebro, para se obter uma percepção completa dela.

Esse processo é bastante complicado para o cérebro e a atividade musical envolve quase todas as regiões do órgão. Mas, quando nos emocionamos, ocorre a ativação de uma região do cerebelo, que é responsável pela liberação de dopamina e noradrenalina, que junto a serotonina e adrenalina controlam o humor, depressão e o sono. A dopamina é um neurotransmissor, ou seja, um mensageiro químico do nosso sistema nervoso, que sinaliza, entre outras coisas, a recompensa e a motivação. Já a norepinefrina atua em momentos de estresse. Além disso, a amígdala também é ativada, levando ao estímulo de recompensa, assim como a dopamina.

Por outro prisma, a dança é algo intrínseco na trama oitentista. Seja qual for, toda manifestação corporal pode ser considerada um bom organizador prévio por ser encontrada em diversos espaços sociais e de conhecimento, por suas formas variadas, e por sua relação com diferentes áreas como Neurociência, Psicologia, Antropologia, Filosofia, Educação Física e demais áreas. Parafraseando Rodrigues (2014), a dança apresenta, portanto, um potencial riquíssimo no que concerne às capacidades humanas e à produção de conhecimento.

Lerman (2003) corroborando com o pensamento de Rodrigues, afirma que as artes (música, dança, teatro, filmes etc.) são excelentes veículos para aumentar o entendimento e persuadir as pessoas a estudar química através de outras formas de comunicação.  De fato, em um estudo realizado em 2015, a dança já foi utilizada como ferramenta no ensino de interações químicas a nível molecular para ensino superior apresentando efeito positivo tanto no interesse como entendimento pelos alunos. E o que isso pode nos dizer? Da mesma maneira que a Química, outras áreas de conhecimentos estão e são interligadas, sendo possível extrai-las de assuntos que jamais pensaríamos ter correlações.

Recordam que eu mencionei sobre a nova leva de fãs do filme, incluindo as minhas sobrinhas? Pois bem, elas não foram induzidas, mas gostam bastante da cena final. E, portanto, querem fazer o tal pulo da Baby e ficar em posição de “avião” pairando no ar. Pura inocência e ao mesmo tempo uma construção de memórias afetivas! Espero que vocês, Maria Ísis e Maria Helena, possam literalmente voar – tendo a liberdade de serem o que quiser, felizes. Pode ser que, naquele futuro, eu não tenha mais forças o suficiente para elevá-las ou tenha ido para outro plano. Acredito que vocês jamais esquecerão dos momentos que o hoje nos permitiu conforme diz o verso da música: “Now, I’ve had the time of my life” (Agora, eu tive os melhores momentos da minha vida). Lembrem-se: sejam felizes (e audaciosas!).

Ah! E para os amantes do longa, a Lionsgate anunciou recentemente que a continuação de Ritmo Quente (1987), que trará de volta a atriz Jennifer Grey no papel de Baby, chega aos cinemas do exterior em 9 de fevereiro de 2024. 

*Pós-doutorando na Universidade de São Paulo (USP), Doutor em Ciências pela Universidade Federal de Alagoas (UFAL), Mestre em Química pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), graduado em Química Licenciatura pela Universidade Federal de Sergipe (UFS), atua nas áreas de Nanotecnologia, Química de Materiais e Educação Química, diretor executivo e membro da Academia Brasileira de Jovens Cientistas (@jovenscientistas.abjc), divulgador científico e pesquisador, membro colaborador do Ciência Brasileira é de Qualidade (@ciencia.brasileira), do QuiCiência (@quicienciaiqb) (IQB/UFAL), da Usina Ciência da Pró-Reitoria de Extensão (PROEX/UFAL) e revisor dos periódicos. 

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