Nordeste
Ainda a propósito da referência desprimorosa que o presidente Jair Bolsonaro fez aos padrões de alfabetização dos eleitores nordestinos, vou direto ao ponto: quem foi um dos primeiros brasileiros a bater ali, ó, no teto da própria Filosofia como ciência geral das primeiras causas e da razão última das coisas? Aquele que também pioneiramente viu […]
Ainda a propósito da referência desprimorosa que o presidente Jair Bolsonaro fez aos padrões de alfabetização dos eleitores nordestinos, vou direto ao ponto: quem foi um dos primeiros brasileiros a bater ali, ó, no teto da própria Filosofia como ciência geral das primeiras causas e da razão última das coisas? Aquele que também pioneiramente viu o Direito, não como um metafísico “filho do céu”, porém como um incessante produto da vida humana em concreto? Uma realidade tecida com os fios das relações sociais e, portanto, um objeto cultural? Pondo-se mesmo como precursor, entre nós, do que no mundo inteiro passou a se chamar de “culturalismo jurídico”? Foi Tobias Barreto.
Tobias Barreto de Menezes, sim, nordestino da gema. Sergipano em cuja homenagem a histórica Faculdade de Direito do Recife deu a si mesma o nome oficial de “Casa de Tobias”, justamente.
Pergunto, agora: e quem, provavelmente, foi o maior poeta brasileiro de todos os tempos, tanto no estilo romântico de Lamartine quanto no condoreiro de Victor Hugo e no épico de Homero? Respondo com todo conforto analítico: foi o baiano Antônio de Castro Alves. O gênio que se despediu da Vida tão-só aos 24 anos de idade e que, em defesa dos escravos negros do Brasil, questionava assim duramente o próprio Deus: “Senhor Deus dos desgraçados, onde estás que não me ouves? Em que mundo, em que estrela tu te escondes, embuçado nos céus”? Moço que brincava com a lógica do tempo para juntar o “Descobridor da América” ao “Patriarca da Independência” do Brasil e lhes ordenar, altivo, ainda no paroxismo da indignação pelo crime de lesa-humanidade que foi a política pública de importação marinha dos nossos irmãos d´África: “Andrada, arranca esse pendão dos ares! Colombo, fecha a porta dos teus mares”!
Enfim, o arrebatado poeta que, já à sua distante época (nasceu em 1847 e morreu em 1871), falava às claras do amor carnal entre homem e mulher, mas sem perder jamais o lirismo que também perpassava os seus arrebatamentos cívicos, de que serve de amostra este belíssimo verso: “Auriverde pendão da minha terra, que a brisa do Brasil beija e balança”.
Nesta marcha batida, avanço no tempo para listar exponenciais juristas nordestinos, como o próprio Tobias, Teixeira de Freitas, Sílvio Romero, Rui Barbosa, Gumercindo Bessa, Clóvis Bevilaqua, Pontes de Miranda, Orlando Gomes, Antônio Luís Machado Neto, Lourival Vilanova, Seabra Fagundes e Paulo Bonavides.
Nomes dessa região brasileira que é o habitat das mais tépidas águas do mar, do mais nítido azul do céu e das luas cheias mais grávidas de poesia. Rutilância jurídico-científica digna de comparação, já no plano literário, com as obras dos paraibanos José Lins do Rego e José Américo, do pernambucano Gilberto Freyre, do alagoano Graciliano Ramos, dos baianos Jorge Amado e Ubaldo Ribeiro, da cearense Rachel de Queiroz, do paraibano-pernambucano Ariano Suassuna, para citar apenas estes.
A mesma fulgurância de sentimento e pensamento que, afunilando as coisas para os domínios da arte poética, suscita mais uma pertinente pergunta: quem, ombreadamente aos cariocas Olavo Bilac, Cecília Meireles e Vinícius de Moraes; aos paulistas Mário de Andrade, Hilda Hilst e Paulo Bomfim; aos gaúchos Mário Quintana, Raul Bopp e Carlos Nejar; à trinca mineira Carlos Drummond de Andrade/Murilo Mendes/Adélia Prado; ao amazonense Thiago de Mello e ainda ao mato-grossense Manoel de Barros., quem, repito, mais desenvolto subiu os degraus da excelência que o paraibano Augusto dos Anjos, o cearense Patativa do Assaré, os maranhenses Gonçalves Dias e Ferreira Gullar, os alagoanos Jorge de Lima e Lêdo Ivo, os pernambucanos Manuel Bandeira, João Cabral de Melo Neto e Mauro Mota?
E quem mais brilhante de inteligência e mais profundo em cientificidade do que o pedagogo recifense Paulo Freire e o tão filósofo qua.
* Carlos Ayres Britto é ex-presidente do Supremo Tribunal Federal
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