Setembro Amarelo: psicólogo ressalta a importância de atendimento especializado no combate ao suicídio

Criada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP), em parceria com o Conselho Federal de Medicina (CFM), a campanha do Setembro Amarelo busca conscientizar a população sobre a prevenção ao suicídio. Este ano, o lema da ação é “A vida é a melhor escolha”. Para debater o  assunto e alertar para os sinais de alerta, o Portal M! ouviu o psicólogo clínico Curt Hemanny.

Formado em Terapias Comportamentais e Cognitivas, doutor em Ciência da Saúde pela Universidade Federal da Bahia (Ufba) e com experiência em tratamento de depressão e transtorno da personalidade borderline, o psicólogo destacou que 90% dos casos de suicídio ocorrem na presença de um transtorno mental – por isso, é necessário atenção aos sinais de falta de saúde mental, além do acompanhamento de um profissional capacitado.

“O acesso adequado à saúde para aquelas pessoas que sofrem de algum transtorno mental, sem dúvida, pode reduzir a chance de um suicídio”, destacou.

Para o profissional, o ideal é que a pessoa seja atendida por um médico psiquiatra ou psicólogo para ser devidamente diagnosticada.

“É importante também que não seja qualquer profissional, mas sim um especializado em transtornos que levam ao suicídio, por exemplo, transtorno bipolar, transtorno da personalidade boderline. Esses são os transtornos que mais levam ao suicídio. Pode ser um psiquiatra ou um psicoterapeuta com formação em terapia comportamental dialética ou terapia cognitiva comportamental. São as abordagens que mais funcionam para tratar desses transtornos e, possivelmente, diminuir a expectativa de suicídio. Não pode ser qualquer tratamento”, detalhou.

Curt Hemanny destacou a importância da família e dos amigos ficarem atentos aos indicativos de pensamentos suicidas.

“Se o seu familiar está se isolando, com oscilações de humor muito fortes, falando menos, com um comportamento diferente do que estava apresentando, como retração social, com uma aparência abatida, apresentando comportamentos de riscos, como se cortar, se machucar… esse familiar deve, gentilmente, indicar que aquela pessoa procure um profissional habilitado. Em casos de emergência, esse familiar deve ligar para o Samu, caso haja um risco de vida eminente”, aconselhou o psicólogo.

Ele também ressaltou a necessidade de atendimento profissional para os familiares de uma vitima de suicídio. “Essas pessoas são muito vulneráveis a cometer suicídio também, pelo efeito de influência. O luto por suicídio é muito diferente e muito traumático”, pontuou.

Setembro Amarelo e instituições

Para Curt Hemanny, é necessário que o tabu social criado quanto ao suicídio seja quebrado para que o tema entre em debate e, desta forma, os danos sejam minimizados. Contudo, o profissional ressaltou que deve haver muito cuidado na abordagem do assunto.

“A imprensa e as instituições precisam se atentar, pois existe uma forma de falar sobre a ocorrência do suicídio, já que existe um efeito de influência. A mídia, a escola e outros grupos não podem entrar em detalhes sobre métodos, sobre como a pessoa cometeu suicídio. É preciso conscientizar as pessoas para que o suicídio não seja uma opção”, alertou.

Profissionais vulneráveis

Outro alerta feito pelo psicólogo é referente aos profissionais que estão mais vulneráveis ao estresse, à pressão e aos transtornos mentais. Ele também citou o fácil acesso a meios letais como outro problema a ser enfrentado.

“Profissionais da área de atendimento à saúde passam por um nível de estresse extremamente alto. Estudos apontam que o estresse está mais presente na rotina do médico do que na da população geral. Dentre os médicos, é possível que esses pensamentos suicidas possam estar mais presentes. Todo grupo que passa por grande estresse tem mais chances de ter comportamento suicida. Isso também acontece em áreas onde se tem acesso a meios letais, como os policiais. É o caso também da classe médica, que tem acesso a alguns agentes químicos. O desespero da pessoa, associado ao fato dela ter, em mãos, um elemento mortal aumenta esse risco”, disse.

Polêmica da vez: suicídio assistido

Após o cineasta francês Jean-Luc Godard decidir optar pelo suicídio assistido na Suíça, onde a prática é legalizada, e seu compatrioa, o ator Alain Delon, anunciar que fará o mesmo, o suicídio assistido voltou a ser debatido. No Brasil, a prática não é legalizada.

“A gente só vê o fenômeno final, mas as pessoas que querem passar por esse procedimento precisam atender a uma série de pré-requisitos que variam de acordo com o país. Na maioria dos países, essa pessoa deve estar em estado terminal, já ter passado por várias formas de tratamento que não funcionaram e precisa ter um prognóstico de piora significativa. Cada país e cada cultura terá uma discussão ética sobre isso, mas não é um assunto fácil. É preciso uma análise caso a caso. Não é uma questão de escolha”, explicou o profissional, acrescentando que o trabalho dos psicólogos é construir uma vida na qual suicídio não seja uma opção.

Busque ajuda

Para aqueles que têm sentimentos de desesperança, tristeza, com oscilações constantes de humor ou com qualquer desconforto psicológico ou emocional, Curt Hemanny indica que procurem ajuda, pois terão profissionais que vão as ajudar a passar pelo sofrimento e ter uma vida com qualidade.

Em Salvador, o Ministério da Saúde oferece, por meio da Secretaria Municipal de Saúde (SMS), os Centro de Atenção Psicossocial (Caps) que podem ser consultadas no site do Ministério Público da Bahia (MP-BA). O atendimento é gratuito pelo SUS.

Já na rede estudual, o Centro de Informação e Assistência Toxicológica da Bahia – CIATox-BA (antigo Ciave) inaugurou o Serviço de Psicologia para tratar especificamente do suicídio. O serviço fica localizado na Rua Direta do Saboeiro, Estrada Velha do Saboeiro, no Cabula. 

Se precisar de ajuda, acione também o Centro de Valorização da Vida (CVV), pelo telefone 188 ou 
neste site. Leia também a Cartilha de Prevenção ao Suicídio neste link.

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