Cientistas políticos explicam por que a terceira via não decola no Brasil
De acordo com especialistas, fenômeno ocorre desde as eleições de 1994
A cerca de três meses das eleições gerais, ainda existe uma parcela da população que almeja o surgimento de um nome como alternativa à polarização entre os pré-candidatos do PT, Luiz Inácio Lula da Silva, e do PL, Jair Bolsonaro. No entanto, na opinião dos cientistas políticos ouvidos pelo Portal M!, o cenário em outubro deverá ser o mesmo observado desde 1994, com apenas dois nomes disputando efetivamente a corrida presidencial.
Segundo o cientista político e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Jorge Almeida, a tendência sempre foi de polarização entre duas candidaturas, com exceção de 1989, quando três postulantes foram mais bem votados – a disputa que envolveu Lula e Leonel Brizola para ver que ia ao segundo turno com Fernando Collor de Mello, vencedor da eleição contra o petista.
“Isso reflete, grosso modo, aquilo que se chama genericamente de ‘direita’ e ‘esquerda’. Depois do retorno das eleições, elas sempre polarizaram isso, e isso continua se manifestando agora. Então é difícil quando uma eleição vai se polarizando dessa maneira aparecer uma terceira via”, explica.
Na opinião do especialista, isso não ocorre por um suposto “carisma” dos candidatos que estão à frente na preferência do eleitorado, mas por eles representarem posições que expressam melhor a tendência mais à direita ou mais à esquerda da forma como são entendidas pelo senso comum.
“A rigor, não diria que a candidatura de Lula é de esquerda, mas é assim que ela é entendida socialmente. Desde 89, todas as candidaturas da esquerda foram do PT, com Lula disputando seis das nove eleições neste período. Bolsonaro veio por fora atropelando as candidaturas da direita tradicional e ocupou o espaço desse eleitorado. Uma parte é um eleitorado muito conservador, de extrema direita, que é o que ele representa, mas grande parte do eleitorado que vai para Bolsonaro é uma herança do que foi o eleitorado de Collor, FHC, Serra e do próprio Alckmin, que já foi candidato da direita contra Lula”, aponta.
Já na opinião do cientista político e também professor da Ufba, Wilson Gomes, que não concorda com o uso do termo “polarização”, aponta que o que existe este ano é a repetição do que tem sido tendência do eleitorado brasileiro há quase duas décadas: concentrar atenção e votos em dois candidatos e abandonar as outras ofertas políticas.
“Por que isso tem acontecido e por que aconteceu de novo? Difícil saber. Parece contraditório. Primeiro, porque sempre houve boas terceiras ou até quartas alternativas; segundo, porque em todas as eleições, eleitores e jornalistas sempre reclamaram da falta de opção, apesar de não haver falta de alternativas; terceiro, porque há mais de uma década tem sempre alguém se oferecendo para ser a alternativa que quebraria o binarismo inercial de todas as eleições, e ninguém liga para isso”, afirma.
De acordo com Wilson Gomes, é necessário estudo para decifrar por qual motivo, desde 1989, não existem surpresas sobre quem será o primeiro e o segundo classificados para o segundo turno.
“Uma das razões há de ser a hegemonia eleitoral do PT, que desde 1989 tem sido sempre um dos times mais competitivos nos campeonatos presidenciais. Por muito tempo, a rivalidade foi o PSDB, que emergiu nos anos 1990 como a maior força eleitoral. O impeachment mudou esse quadro, mas em vez de liquidar o PT, que foi a vítima daquele ato político, derrubou o PSDB e colocou o bolsonarismo em seu lugar, para rivalizar com o Partido dos Trabalhadores”, relata.
Mas quando o assunto são os eleitores que não pretendem votar nem em Lula nem em Bolsonaro, Jorge Almeida avalia que se trata de um comportamento politico eleitoral típico do povo brasileiro.
Para ele, existem dois votos no país: aquele por valores, que tem uma base ideológica, que vota porque está àesquerda ou è direita, pela religião, por elementos morais, éticos; e o voto por uma “racionalidade pragmática”, que é um tipo de opção ligada ao custo-benefício.
“A pessoa vota a partir de uma avaliação racional dos candidatos, porém uma avaliação imediatista. Quem é o candidato que pode atender melhor determinadas demandas concretas: salário, renda, consumo, emprego, educação, saúde. Então, vota tentando identificar os candidatos que podem atender isso. Em toda eleição, há uma combinação desses dois fatores”, ressalta.
No entanto, com a polarização, Almeida acredita que se força mais o voto por valores. Já em outros cenários, há uma tendência maior de votos por essa racionalidade pragmática, na qual eleitor pode flutuar mais. “Ele vota em candidatos que, às vezes, estão à direita ou à esquerda, dependendo do resultado que eles acham que será trazido”, completa.
Por sua vez, Wilson Gomes indica que existem diferentes tipos de eleitores e defende a necessidade de entendê-los. Segundo o professor, há eleitores de direita e de esquerda que prefeririam outros candidatos, não apenas por serem ‘anti alguma coisa’, mas porque veem mais mérito em terceiros, como Ciro Gomes (PDT) ou Simone Tebet (MDB).
“Existem os que estão cansados das alternativas e gostariam de alternância de poder. Estes aí, acho, vão acabar votando no candidato do seu segmento ideológico: os de centro ou de esquerda votarão em Lula e os de extrema-direita e direita em Bolsonaro, se esse cenário se mantiver estável até o segundo turno”, projeta.
Ele ressalta também que existem eleitores que se movem pela rejeição, em que o voto é sempre um “anti-voto”: antibolsonarista ou antipetista.
“Esses aí são aqueles que votariam ‘até no diabo’ para impedir que o candidato que odeia ganhe a eleição. Esses votarão com certeza e com essa orientação. Há ainda os eleitores decepcionados e magoados, que votaram com convicção na eleição passada e se sentiram traídos. Em geral, estão mais para a antipolítica do que para qualquer outra coisa – estes podem não votar ou anular o voto. Há muito ex-bolsonaristas, principalmente, mas também ex-petistas nessa barca”, expôs o cientista.
Falta de propostas
O cientista político Jorge Almeida também falou sobre o debate ideológico que tem moldado o processo eleitoral neste ano. Segundo ele, a campanha está carente de debate programático. Almeida apontou que a última eleição que serviu de palco para discussão de projetos foi a de 1989.
“De lá para cá, foi sendo cada vez mais uma disputa de promessas, mais do que de projetos. Não aparece um projeto politico de nação, então acho que a tendência vai ser isso, e outra parte será o voto negativo. Então é uma campanha de ataques, que está à frente do propositivo. Agora será uma ‘guerra’ sem convenção de Genebra. Sem respeito a critérios humanitários, a direitos humanos”, acredita.
Com relação ao movimento em direção ao chamado ‘centro democrático’, visto nas eleições municipais de 2020, e que não tem sido observado em 2022 até então, o cientista avalia que isso ocorre porque o pleito municipal se dá de forma mais “dispersa”.
“Acho que o termo ‘centro democrático’ não é adequado, são candidaturas de direita, que não são a extrema direita de Bolsonaro. A diferença que existe da última eleição para essa é que existiu uma tendência de voto à direita, e esse voto à direita foi capitalizado pela direita tradicional: PSDB, União Brasil, MDB, PSD”, explica.
Almeida lembra ainda que o Centrão sempre foi formado por candidatos da direita tradicional e já estiveram presentes em diversos governos. “O Centrão foi base do regime militar, de Collor, FHC, Lula, Dilma, Temer, Bolsonaro, e será de Lula, caso vença. Uma parte já está aderindo e outra vai depois”, pontua.
Já Wilson Gomes defende que o ‘centro democrático’ é uma invenção. “O PT é um partido de centro, mas não está incluído. O DEM, agora União Brasil, é um partido de direita, mas foi posto nessa Kombi. Então, é só mais uma confusão criada”, afirma.
Cenário estadual
Se no cenário nacional há uma polarização entre Lula e Bolsonaro, no âmbito estadual o pré-candidato do União Brasil, ACM Neto, tem se equilibrado à frente das pesquisas mesmo sem declarar apoio a nenhum presidenciável, como seus principais adversários Jerônimo Rodrigues (PT) e João Roma (PL). Muito se perguntam se Neto vencerá acumulando votos de ambos os lados.
Para o cientista político Jorge Almeida, não seria a primeira vez que o fenômeno aconteceria, mesmo que a eleição na Bahia tenha uma tendência histórica à nacionalização. Segundo ele, já houve um caso de exceção, em 2002, quando Jacques Wagner (PT) disputou o Governo da Bahia com Paulo Souto (à época, PFL).
“O que Neto quer fazer agora, seu avô, ACM, fez em 2002, quando era o chefe político de Paulo Souto. Ele quer repetir o mesmo, não é novidade. Ele tinha rompido com FHC, e apoiou Ciro Gomes no primeiro turno, que não tinha chances de ganhar, diante da polarização entre Lula e [José] Serra. Ele não podia apoiar Lula de cara, já que disputava na Bahia contra Wagner, e tinha a intuição de que Serra seria derrotado”, pontuou.
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