Educadores criticam o homeschooling: ‘Conhecimento reduzido e experiência humana superficializada’

Na Bahia, o projeto que regulamenta a prática do ensino domiciliar, conhecido como “homeschooling”, divide opiniões.  Aprovada na quinta-feira (19), na Câmara dos Deputados, a matéria foi encaminhada para ser apreciada e votada no Senado. Para quem é contra, o texto é visto como uma ação negativa para o desenvolvimento social das crianças e pode influenciar na intolerância à diversidade.  

De acordo com o diretor financeiro do Sindicato das Escolas Particulares da Bahia (Sinepe-Ba), Jorge Tadeu Coelho, o homeschooling subtrai a potencialidade que se obtém com o exercício da alteridade e pode gerar empobrecimento em duas frentes: conhecimento reduzido e experiência humana superficializada. 

“O ambiente escolar é muito mais importante do que em geral as pessoas percebem. A parte mais visível é o contato com os conhecimentos socialmente construídos, mas não é só isso. Nós, humanos, somos seres sociais, aprendemos inclusive a agir como humanos, na presença de outros seres humanos. Com sorte nasceremos em uma família que é nossa experiência primária de socialização, mas, em pouco tempo precisamos ir para outros experiências ampliadas de socialização como a escola”, afirma.  

Jorge Tadeu Coelho é o diretor do Sinepe

Jorge destaca que no ambiente escolar, a criança dá continuidade ao seu processo de se conhecer, o que segundo ele, ocorre através do contato com seus colegas e amigos. Ele chama atenção para a tolerância à diversidade. “Em uma escola é possível aprender a conviver com o diferente. Isto nos salva da barbárie que seria não tolerar a diferença. Educar crianças convivendo apenas com sua família é subtrair dela como ser humano a possibilidade de desenvolvimento que se obtém na convivência com outros, que sejam necessariamente diferentes”, pontua. 

Vereador Sílvio Humberto é membro da Comissão de Educação da Câmara e professor por formação

Atualmente, o ensino domiciliar não é permitido no Brasil por decisão do Supremo Tribunal Federal. Com base na Constituição, os ministros argumentam que o dever de educar implica cooperação entre Estado e família, sem exclusividade dos pais.  Para o membro da Comissão de Educação da Câmara Municipal e professor por formação, vereador Sílvio Humberto (PSB), o homeschooling é um retrocesso. O parlamentar destaca que é a favor do princípio Ubuntu, uma educação popular. 

“Há problemas mais graves na educação. A qualidade de educação pública que não é tratado com urgência pela Câmara dos Deputados. São os mesmos defendendo os seus e seus cercadinhos. Eu defendo o princípio Ubuntu, estamos todos conectados, a escola com suas diversidades é fundamental para assegurar a dignidade humana.  Essa proposta é isolacionista e no limite pode levar os governos ao descompromisso com os mais vulneráveis”, analisa Sílvio. 

Caso o texto seja aprovado pelo Senado, a matéria ainda precisa ser sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro (PL) para entrar em vigor. Desde 2013 que pais ou responsáveis devem, obrigatoriamente, matricular seus filhos, de 4 a 17 anos, nas escolas, devido à uma alteração feita na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional (LDB) por meio da Lei nº 12.796. Anteriormente ao ano de 2013, os pais eram obrigados a colocar as crianças na escola a partir dos 6 anos.