Pediatras e gestores discutem como melhorar assistência a crianças com Covid-19

Abertura de novos leitos, ampliação da cobertura vacinal e reorganização na rede de saúde foram alguns dos aspectos fundamentais apontados, durante o encontro promovido pela Sociedade Baiana de Pediatria (Sobape), nesta quinta-feira (27), no enfrentamento à alta de casos de Covid-19 em crianças e adolescentes.

A roda de conversa online “O Cenário da Covid-19 na Pediatria da Bahia: Onde estamos e para onde vamos!” foi mediada pela presidente da Sobape, a pediatra Dolores Fernandez, e teve o apoio do Instituto de Ensino da Saúde e Gestão (IESG) da Liga Álvaro Bahia, com a participação de especialistas e gestores públicos dedicados à causa infatojuvenil. O conteúdo do encontro está disponível no canal da Sobape no Youtube: https://www.youtube.com/watch?v=o7iajzfycgU.

“Se não protegermos a infância e a adolescência, teremos uma sociedade problemática com muitas sequelas e muita reabilitação”, introduziu Dolores Fernandez, ao destacar a gravidade com que as crianças infectadas têm chegado às unidades de saúde.

Carlos Emanuel Melo, diretor-presidente da Liga Álvaro Bahia Contra a Mortalidade Infantil, mantenedora do Hospital Martagão Gesteira, destacou a complexidade em alocar os pequenos pacientes que, além da infecção por Covid-19, demandam atendimento em outras especialidades. “A Covid virou carimbo que impede a criança de ter acesso a ter outros serviços na rede de saúde”, pontuou.

Diretor médico do Martagão, o médico Samir Nahass afirmou que na maioria dos casos a infecção do coronavírus está aliada a alguma comorbidade, como pneumonia, asma, paciente oncológico, com apendicite ou que precisa de atendimento ortopédico, mas está com Covid.

“Será que não vale a pena trazermos para a discussão que os hospitais de especialidade passem a ter área restrita para cuidado desses pacientes? A gente está vivendo situações difíceis de resolução, onde o hospital Covid não tem estrutura para resolver porque aquele recurso está em outra instituição que não tem leito Covid”, sugeriu Samir Nahass.

Segundo ele, o Martagão tem dez leitos de UTI e 20 de enfermaria dedicados a pacientes com Covid, mas a taxa ocupação em UTI é de 160%, e de 185% na enfermaria, com 18 pacientes a mais que a capacidade normal.

A pressão por leitos pediátricos também aumentou muito nos últimos dias no Instituto Couto Maia, onde foram abertos recentemente dez novos leitos de enfermaria com ventiladores mecânicos e oxigênio, segundo relatou a diretora-geral da unidade, a infectologista Ceuci Nunes.

O coordenador do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu/Salvador), Ivan Paiva, também sinalizou ampliação de novos leitos na rede municipal por conta “do aumento crescente na demanda”, além de reforçar a assistência inicial nas Unidades de Pronto Atendimento (Upas).

Vacinação

A roda de conversa online também levantou considerações sobre a vacinação em crianças e adolescentes, que precisa ser impulsionada, sobretudo para garantir o mínimo de segurança no retorno às aulas. Para os especialistas, as questões ideológicas e as diretrizes colocadas pelo governo federal desencorajam os pais e colocam burocracia nos termos de autorização para aplicação do imunizante.

Uma das medidas postas pelo Ministério da Saúde é de que a criança deve ficar por 20 minutos na unidade de saúde após ser vacinada – o que foi desconsiderado pela prefeitura de Salvador. Segundo a infectologista Ceuci Nunes, a recomendação “passa uma mensagem subliminar de insegurança” e inviabiliza também a estratégia da vacinação no esquema drive-thru, que foi usada para os adultos.

O promotor Carlos Martheo, do Ministério Público do Estado da Bahia, a vacinação é um direito previsto no Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), e que é preciso “trabalhar de forma cientifica, honesta e clara para que pais se sintam seguros”.

A presidente da Sobape sugeriu ampliar os locais de vacinação, passando a incluir as unidades escolares na retomada das aulas presenciais.

Ex-secretário de Saúde da Bahia, o deputado federal Jorge Solla reforçou que é importante “não perder nenhuma oportunidade de vacinar”.

Baixa entre profissionais de saúde

Outra preocupação relatada no encontro foi a quantidade de profissionais de saúde infectados. “Como a cepa é muito infectante, nós estamos com as equipes de trabalho se desdobrando em cargas horárias gigantescas por conta de afastamentos. Colaboradores cansados, com os coordenadores entrando nos plantões para tentar render seus liderados”, relatou o diretor médico do Martagão Gesteira, Samir Nahass, onde 10% dos funcionários estão afastados por contaminação da Covid.